variações do brancØ
TRILOGIA DAS COREs | vol.3
"Nem uma palavra trocaram entre si
o anfitrião o hóspede
e o crisântemo branco"
Anónimo, Japão, séc (?)
"A cal, como substância e como cor, ressoa fortemente na chamada
imaginação simbólica (…) No imaginário da cal ligam-se facilmente
dualismos e conjugações místicas e alquímicas através de um pequeno
conjunto de características substantivas e de valores culturais
associados. Ela é um sublimado de alvura que resulta do trespasse ígneo
de um elemento ctónico, mas de geração orgânica, e que revive,
ebuliente, ao contacto com a água primordial. Ela suprime em si todos os
corpos vivos, cumpre função purificadora e redentora na decomposição
dos cadáveres, representa isolada a expressão superlativa e absoluta do
branco e de todos os valores associados a esta cor, ou ausência dela (…)
Assim, do cru ao cozido, dos fornos às sepulturas, da sua vida à sua
morte, da sua ebulição viva ao seu apagamento, passando pelo leite e
pela alimentação e devoração, a cal cumpre muito completamente as
funções simbólicas para pensar os trânsitos ambivalentes entre natureza e
cultura.”
Pedro Prista in Terra Palha Cal
FICHA ARTÍSTICA
composição e piano FILIPE RAPOSO | produção musical FILIPE RAPOSO | gravação e masterização ANDRÉ TAVARES | fotografia e vídeo ABEL ANDRADE | design PAULA DELECAVE | produção executiva e difusão JOANA FERREIRA/ANTN | apoio DIREÇÃO-GERAL DAS ARTES, REPÚBLICA PORTUGUESA CULTURA, FUNDAÇÃO GDA, CONVENTO DE SÃO FRANCISCO/CM COIMBRA
gravação 10 e 11 FEV 25 | CONVENTO DE SÃO FRANCISCO, Coimbra
lançamento 24 ABR 25 | CENTRO CULTURAL DE BELÉM, Lisboa
Em algumas culturas orientais, o branco é a cor do luto e da resiliência dos seres humanos, ao mesmo tempo que é a cor da página em branco, que permite reinventar a nossa história. O branco evoca paisagens imaculadas, distâncias monótonas, das vastas planícies geladas aos desertos de areia clara. O branco é também a cor da novidade, do começo. Simboliza o renascimento, simplicidade e restauração. As cores da primavera são representadas com as pétalas brancas e significam renovação e eterno retorno.
Partindo de uma lista simbólica, como o branco sal, o branco neve, o branco marfim, o branco albornoz, o branco areia, a noite branca ou branco cal, a cor vai sugerindo e moldando o processo criativo e composicional.
Neste disco Filipe Raposo ao diálogo entre o norte e o sul, do som que afasta estas duas geografias, mas que também as aproxima. Das melodias melismáticas com sabor a sul, às harmonias minimais influenciadas pelos silêncios frios e invernos longos dominados pelo branco do norte gélido.
O branco também surge na arquitetura tradicional portuguesa como um indicador de oposição entre o norte negro granítico e o sul branco cal, assinalando uma paisagem do sul e que contorna a bacia do Mediterrâneo. A paleta subtil e riquíssima da cal, cor substanciada, permite o alívio da ardência nos meses de estio e permite a projeção de sombras (reais e imaginadas) nos meses quentes, mas o seu uso vai muito além da proteção da casa e dos materiais, simbolizando, per si, uma antropologia do habitar. Cor redentora e mística, símbolo de pureza, metáfora de ordem e moral, cor da virtude.
Partindo da forma barroca — tema e variações — o pianista propõe que a partir do branco simbólico (tema) surjam variações motívicas e temáticas.
BIOGRAFIA
Filipe Raposo é pianista, compositor e orquestrador. Iniciou os seus estudos de piano no Conservatório Nacional de Lisboa e concluiu o mestrado em Piano Jazz Performance pelo Royal College of Music (Estocolmo), tendo sido bolseiro da Royal Music Academy of Stockholm. É licenciado em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa.
Enquanto compositor, orquestrador e pianista, tem colaborado com inúmeras orquestras europeias, apresentando-se a solo ou com diferentes formações em festivais internacionais. Colaborou em concertos e em gravações discográficas com alguns dos principais nomes da música portuguesa.
Desde 2004, colabora com a Cinemateca Portuguesa como pianista residente no acompanhamento de filmes mudos. A convite desta instituição, compôs e gravou a banda sonora para as edições em DVD de filmes portugueses do cinema mudo: Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros (menção honrosa no festival Il Cinema Ritrovato, em Bolonha); O Táxi n.º 9297, de Reinaldo Ferreira; O Primo Basílio, Frei Bonifácio, Barba Negra e Primo Basílio de Georges Pallu; Nazaré, Praia de Pescadores, de Leitão de Barros.
Trabalha também regularmente como compositor em cinema e teatro. Autor da música original do documentário Um Corpo que Dança – Ballet Gulbenkian 1965-2005, de Marco Martins. Em 2022 realizou, em parceria com António Jorge Gonçalves, o documentário O Nascimento da Arte. No mesmo ano escreveu a ópera As Cortes de Júpiter (Gil Vicente), com encenação de Ricardo Neves-Neves.
Em nome próprio, editou os discos:
First Falls [Prémio Artista Revelação Fundação Amália – 2011] | A Hundred Silent Ways (2013) | Inquietude (2015) | Rita Maria & Filipe Raposo Live in Oslo (2018) | Øcre vol.1 (2019) | The Art of Song vol.1: When Barroque Meets Jazz (2020) | Øbsidiana vol.2 (2022) | The Art of Song vol.2: Between Sacred and Profane (2023).
2025